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Igor Pinheiro

C.E.O da Inova Civil
Ativo 17

Manifestações Patológicas Nas Estruturas De Concreto

Durante uma vistoria ou uma inspeção você já ouviu a seguinte frase: “Essa patologia foi causada por problema X”. Você sabe o que tem de errado nela? O Inova Civil te conta. Além disso, vamos saber tudo sobre as manifestações patológicas em estruturas de concreto armado.

Figura: Manifestações patológicas

É muito comum, tanto entre leigos como entre os técnicos, haver um equívoco ao usar a palavra “patologia”, quando na verdade o ideal seria utilizar a expressão “manifestação patológica”. 

Patologia refere-se ao estudo, à ciência que investiga e explica a causa da manifestação patológica. Portanto, poderíamos considerar essas manifestações como sintomas apresentados pela edificação.

Essas degradações que aparecem na edificação, podem ser adquiridas ao longo do tempo pelo uso e pela falta de manutenção, pelo emprego de materiais e métodos construtivos inadequados durante a execução da obra ou pelo próprio projeto, se desenvolvido de forma inapropriada e sem atender às normas.

De acordo com a NBR 15575 – Norma de Desempenho de Edificações Habitacionais, as obras devem ter uma vida útil de pelo menos 50 anos, mas o que acontece na grande maioria dos casos é o surgimento de problemas antes desse prazo. 

Muitos desses problemas que a estrutura apresenta, podem ser muito mais difíceis de recuperar do que construir um novo edifício. Isso se deve à manutenção precária e ao uso diário do empreendimento, que dificulta os reparos. 

Sendo assim, hoje nós trouxemos algumas manifestações patológicas mais comuns nas estruturas e como devemos proceder diante dessas situações. Vamos lá conhecer um pouco delas?

FISSURAS

A fissura é um dos tipos de manifestação patológica mais comuns. Elas podem interferir na durabilidade, estética e em algumas características estruturais. A partir das fissuras podem surgir problemas mais graves, como as trincas e as rachaduras.

Problemas com fissuras em paredes e pisos de concreto
Figura 1: Fissuras

As fissuras são aberturas que podem ser classificadas de acordo com a sua espessura. Até 0,05 mm são consideradas fissuras, a partir disso são consideradas como trincas, rachaduras, fendas e brechas. A tabela abaixo mostra como classificá-las:

classificação de fissuras
Fonte: Olivari, 2003

Além da espessura da abertura, elas também podem ser classificadas como ativas ou passivas. 

As ativas são aquelas que sofrem deformações diárias, enquanto as passivas são aquelas que, ao atingirem a sua amplitude máxima, elas se estabilizam devido ao equilíbrio dos esforços mecânicos.

Alguns dos fatores que provocam a formação das fissuras são:

  • Movimentações provocadas por variações térmicas e de umidade; 
  • Falta de verga e contraverga;  
  • Sobrecargas ou concentração de tensões; 
  • Deformação excessiva das estruturas; 
  • Recalques diferenciados das fundações;
  • Alterações químicas de materiais utilizados na construção.

Para ficar melhor de entender como a fissuração acontece na prática, trouxemos o exemplo abaixo:

fissuração de viga de concreto armado
Figura 2: Trincas de flexão em viga de concreto armado

O que aconteceu para que a viga apresentasse essas aberturas? Quais as possíveis causas? O que devemos fazer em casos como esse?

Essas são trincas de flexão. Como podemos ver na imagem, elas são verticais, estão localizadas no meio do vão e tendem a apresentar aberturas maiores na face inferior, que é onde há um acúmulo de tensões.

 Tais aberturas podem ser ocasionadas por sobrecargas não previstas no cálculo estrutural e pela insuficiência de armadura longitudinal positiva. Isso indica que essa viga pode ter sido mal dimensionada ou que houveram erros durante a execução.

Para tratar problemas de fissuração, se for um caso mais simples, o local pode ser limpo com uma espátula, raspando a tinta e aplicando uma massa acrílica e uma tela para vedação. 

Quando se tratar de uma rachadura, deve-se abrir mais a fenda e encaixar uma tela no local e, em seguida, cobrir com massa, de modo que permita que o acabamento da parede fique nivelado.

Em casos mais específicos e que envolvam elementos estruturais, é necessária a presença de um profissional qualificado, pois ele dará um diagnóstico mais assertivo, informará a real gravidade do problema e indicará os procedimentos mais adequados para o reparo.

MANCHAS

As manchas, assim como 60% das manifestações patológicas, são um problema causado pela umidade e que costuma provocar bastante desconforto nos usuários.

Manchas na parede devido a umidade
Figura 3: Manchas ocasionadas por chuva

Essas manchas não têm apenas prejuízo estético, sabia? Elas podem indicar prejuízos funcionais e de desempenho, problemas graves na estrutura, que apresentam risco à saúde e à segurança.

Os problemas relacionados à umidade podem aparecer em pisos, paredes, fachadas e em elementos de concreto. Além disso, são causados por diversos fatores, como:

  • Erros na execução ou falta de impermeabilização;
  • Umidade ascendente (por capilaridade);
  • Infiltração;
  • Vazamentos;
  • Umidade de condensação.
ação da umidade em uma residência
Figura 4: Ação da umidade

É muito comum que essas manchas apareçam na parte inferior das paredes devido à umidade do solo e a falta de impermeabilização adequada, mas também aparecem com muita frequência em lajes de cobertura e pisos.

Suas colorações são diferenciadas e podem variar do branco ao preto. O surgimento de micro-organismos, como o lodo e o mofo, contribui muito para essa coloração, geralmente provocando manchas nas cores verdes e pretas. 

Para solucionar o problema, é importante tratar a fundo a causa da mancha para depois partir para a correção estética. Feito isso, deve retirar o revestimento ou a pintura e higienizar o local.

É importante que toda a sujeira seja removida para evitar o surgimento de micro-organismos. Em seguida, deve ser feita a impermeabilização, seja com tinta ou algum outro produto recomendado para a situação. 

CARBONATAÇÃO DO CONCRETO

A carbonatação do concreto é um processo físico-químico que ocorre entre os componentes do cimento e o gás carbônico (CO2), tendo como resultado a desestabilização da camada protetora da armadura, que fica sujeita a uma corrosão. 

  • Etapas da carbonatação:
  1. A água penetra no concreto através das fissuras, formando uma película de água;
  2. O cálcio presente é dissolvido pela água, formando o Ca(OH)2;
  3. O CO2 também penetra no concreto através das fissuras e reage com a água, formando H2CO3;
  4. Sendo assim, Ca(OH)2 reage com H2CO3, formando CaCo3;
  5. O consumo do cálcio faz com que o pH do concreto diminua e, como consequência, deixando a armadura suscetível à corrosão.
Processo de carbonatação do concreto
Figura 5: Frente de carbonatação

É importante ressaltar que, para que ocorra a corrosão, são necessários os seguintes fatores combinados: umidade, dióxido de carbono e oxigênio.

Em decorrência disso, pode haver um colapso estrutural, uma vez que a reação entre esses componentes pode causar a perda de resistência mecânica, elasticidade, ductilidade, entre outras características essenciais.

Essa manifestação patológica se torna evidente a partir do surgimento de fissuras nos elementos e também quando há o desplacamento da camada de concreto que protege as barras de aço. 

Carbonatação do concreto
Figura 6: Armadura de concreto exposta

Em casos em que ocorre esse desplacamento do concreto e as barras que compõe a estrutura não estão muito degradadas, deve-se limpar a área de modo a deixar pelo menos 2 cm de distância do concreto, limpar a ferrugem e aplicar um produto inibidor de corrosão. 

Caso as barras existam em pouca quantidade ou inexistente, é importante isolar a área e escorar, pois apresenta perigo e substituir os componentes comprometidos.

DETERIORAÇÃO DO CONCRETO

Segundo a NBR 15575, a estrutura deve atender a requisitos como: não ruir ou perder estabilidades, dar segurança aos usuários mesmo quando estiver sob ação de impactos e vibrações, entre outros.

Entretanto, além da carbonatação, outros fatores podem prejudicar o concreto, como quando há a perda do caráter aglomerante do cimento, gerando uma desintegração do concreto. Essa desintegração vai em contradição com o que a norma exige, visto que impacta negativamente o desempenho da estrutura.

causas de deterioração do concreto
Figura 7: Deterioração do Concreto

As causas da deterioração do concreto podem ser classificadas em três tipos:

  • Causas mecânicas
  • Causas químicas
  • Causas físicas

As causas mecânicas são aquelas que comprometem a resistência das estruturas e, através da estrutura degradada, facilita a entrada de agentes agressivos.

Essas causas referem-se a impactos, recalque diferencial das fundações e acidentes, como terremotos.

As causas físicas estão atribuídas a desgastes, como abrasão e erosão, retração hidráulica do concreto, retração e dilatação térmica. Esse tipo de causa provoca desgastes superficiais, gretamento de pisos e fissuração.

Já as causas químicas, ou reações químicas, elas se manifestam através da degradação externa do concreto e das reações internas, como a carbonatação e a formação de compostos expansivos.

O grau de porosidade, permeabilidade e a resistência do concreto também contribui para o resultado final dessas reações.

A solução para o problema vai desde alternativas mais simples, como um reparo ou troca de revestimento, até soluções mais complexas envolvendo fundações.

Portanto, é importante o acompanhamento de profissional qualificado para identificação do grau de gravidade do problema e indicação de medidas corretivas

EFLORESCÊNCIA

Sabe aquelas manchas esbranquiçadas, com aspecto meio escorrido nas superfícies e que são muito comuns? Tenho certeza que você já viu e provavelmente não sabia que era uma eflorescência.

A eflorescência nada mais é do que uma formação de depósitos de sais cristalizados que foram transportados pela água do interior da alvenaria ou concreto.

Esses sais são provenientes de alguns materiais, como a cal, que possui alto teor de hidróxido de cálcio ou até mesmo da água utilizada na construção.

Eflorescência em concreto
Figura 8: Eflorescência

Alguns fatores como o excesso de água, materiais com alto teor de sais solúveis, ambientes quentes e úmidos, impurezas na areia, fissuras e falhas nas juntas de dilatação, contribuem para o surgimento da eflorescência 

Etapas de formação da eflorescência

O processo de formação da eflorescência se dá da seguinte maneira:

  1. A cal livre entra em contato com a água, sendo assim ocorre a dissolução da cal;
  2. A solução formada migra, através de processo osmótico, para a superfície. Essa migração se dá por conta de diferentes níveis de concentração do sal; 
  3. Por fim, a água evapora e resulta na formação dos depósitos salinos esbranquiçados, também conhecida como eflorescência. 

Agora você deve estar se perguntando: como eu vou acabar com esse problema? Calma, nós estamos aqui para te orientar.

Assim como muitas manifestações patológicas, a solução para a eflorescência é impermeabilizar.

Ou seja, quando interrompemos a passagem de água ou a umidade, automaticamente estamos evitando que o ciclo de formação da eflorescência se inicie.

Além da impermeabilização, já existem muitos produtos no mercado que atuam no combate a essas patologias.

Esses produtos combatem temporariamente, pois se a região mantiver o contato com a umidade, as chances de o problema aparecer novamente são altas.

Considerações finais

Diante de tudo o que foi dito, percebemos que é importante a contratação de profissionais qualificados, o uso de bons materiais e a execução de maneira correta dos serviços.

Uma boa parte desses problemas surgem em decorrência de falhas na execução, por isso é essencial ter todo esse cuidado, pois evita prejuízos e torna a edificação muito mais segura.

Também não podemos esquecer das manutenções preventivas, pois elas garantem uma vida útil maior e um melhor desempenho estrutural e funcional. 

Sem essa revisão e sem as normas de desempenho, tanto as funcionalidades e a estrutura do edifício entram em colapso, como a saúde e segurança dos usuários passam a ser comprometidas.

Assista o resumo desse conteúdo no vídeo sobre manifestações patológicas em concreto armado logo abaixo:

Quer saber mais sobre manifestações patológicas na construção civil? Abaixo listamos outros artigos sobre o tema aqui no nosso Blog

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 – Edificações habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

FARIAS DE BRITO, Thaís. Análise de manifestações patológicas na construção civil pelo método gut: estudo de caso em uma instituição pública de ensino superior. Pernambuco, 2017.

SANTOS DE LIMA, Bruno. Principais manifestações patológicas em edificações residenciais multifamiliares. Rio Grande do Sul, 2015.

Figura 1 – Disponível em: < https://www.mapadaobra.com.br/negocios/fissuras-em-paredes-e-pisos-de-concreto/ >;

Figura 2 – Disponível em: < https://guideengenharia.com.br/trincas-de-flexao-de-vigas/ >;

Figura 3 – Disponível em: < http://www.forumdaconstrucao.com.br/ >;

Figura 4 – Disponível em: < https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Acao-da-umidade-POZZOBON-2007-apud-SCHEIDEGGER-e-CALENZANI-2019_fig1_351682353 >;

Figura 5 – Disponível em: < http://doi.editoracubo.com.br/10.4322/2SPPC.2017.022 >;

Figura 6 – Disponível em: < https://4tconstrutora.com.br/wp-content/uploads/2019/08/Estruturas-de-Concreto-expostas-ao-tempo.jpeg >;

Figura 7 – Disponível em: < https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=descobertas-causas-deterioracao-concreto-asfalto&id=010170210701#.Yg2NqOjMLIU >;

Figura 8 – Disponível em: < https://pointer.com.br/blog/eflorescencia/ >;

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