Durante uma vistoria ou uma inspeção você já ouviu a seguinte frase: “Essa patologia foi causada por problema X”. Você sabe o que tem de errado nela? O Inova Civil te conta. Além disso, vamos saber tudo sobre as manifestações patológicas em estruturas de concreto armado.
É muito comum, tanto entre leigos como entre os técnicos, haver um equívoco ao usar a palavra “patologia”, quando na verdade o ideal seria utilizar a expressão “manifestação patológica”.
Patologia refere-se ao estudo, à ciência que investiga e explica a causa da manifestação patológica. Portanto, poderíamos considerar essas manifestações como sintomas apresentados pela edificação.
Essas degradações que aparecem na edificação, podem ser adquiridas ao longo do tempo pelo uso e pela falta de manutenção, pelo emprego de materiais e métodos construtivos inadequados durante a execução da obra ou pelo próprio projeto, se desenvolvido de forma inapropriada e sem atender às normas.
De acordo com a NBR 15575 – Norma de Desempenho de Edificações Habitacionais, as obras devem ter uma vida útil de pelo menos 50 anos, mas o que acontece na grande maioria dos casos é o surgimento de problemas antes desse prazo.
Muitos desses problemas que a estrutura apresenta, podem ser muito mais difíceis de recuperar do que construir um novo edifício. Isso se deve à manutenção precária e ao uso diário do empreendimento, que dificulta os reparos.
Sendo assim, hoje nós trouxemos algumas manifestações patológicas mais comuns nas estruturas e como devemos proceder diante dessas situações. Vamos lá conhecer um pouco delas?
FISSURAS
A fissura é um dos tipos de manifestação patológica mais comuns. Elas podem interferir na durabilidade, estética e em algumas características estruturais. A partir das fissuras podem surgir problemas mais graves, como as trincas e as rachaduras.
As fissuras são aberturas que podem ser classificadas de acordo com a sua espessura. Até 0,05 mm são consideradas fissuras, a partir disso são consideradas como trincas, rachaduras, fendas e brechas. A tabela abaixo mostra como classificá-las:
Além da espessura da abertura, elas também podem ser classificadas como ativas ou passivas.
As ativas são aquelas que sofrem deformações diárias, enquanto as passivas são aquelas que, ao atingirem a sua amplitude máxima, elas se estabilizam devido ao equilíbrio dos esforços mecânicos.
Alguns dos fatores que provocam a formação das fissuras são:
- Movimentações provocadas por variações térmicas e de umidade;
- Falta de verga e contraverga;
- Sobrecargas ou concentração de tensões;
- Deformação excessiva das estruturas;
- Recalques diferenciados das fundações;
- Alterações químicas de materiais utilizados na construção.
Para ficar melhor de entender como a fissuração acontece na prática, trouxemos o exemplo abaixo:
O que aconteceu para que a viga apresentasse essas aberturas? Quais as possíveis causas? O que devemos fazer em casos como esse?
Essas são trincas de flexão. Como podemos ver na imagem, elas são verticais, estão localizadas no meio do vão e tendem a apresentar aberturas maiores na face inferior, que é onde há um acúmulo de tensões.
Tais aberturas podem ser ocasionadas por sobrecargas não previstas no cálculo estrutural e pela insuficiência de armadura longitudinal positiva. Isso indica que essa viga pode ter sido mal dimensionada ou que houveram erros durante a execução.
Para tratar problemas de fissuração, se for um caso mais simples, o local pode ser limpo com uma espátula, raspando a tinta e aplicando uma massa acrílica e uma tela para vedação.
Quando se tratar de uma rachadura, deve-se abrir mais a fenda e encaixar uma tela no local e, em seguida, cobrir com massa, de modo que permita que o acabamento da parede fique nivelado.
Em casos mais específicos e que envolvam elementos estruturais, é necessária a presença de um profissional qualificado, pois ele dará um diagnóstico mais assertivo, informará a real gravidade do problema e indicará os procedimentos mais adequados para o reparo.
MANCHAS
As manchas, assim como 60% das manifestações patológicas, são um problema causado pela umidade e que costuma provocar bastante desconforto nos usuários.
Essas manchas não têm apenas prejuízo estético, sabia? Elas podem indicar prejuízos funcionais e de desempenho, problemas graves na estrutura, que apresentam risco à saúde e à segurança.
Os problemas relacionados à umidade podem aparecer em pisos, paredes, fachadas e em elementos de concreto. Além disso, são causados por diversos fatores, como:
- Erros na execução ou falta de impermeabilização;
- Umidade ascendente (por capilaridade);
- Infiltração;
- Vazamentos;
- Umidade de condensação.
É muito comum que essas manchas apareçam na parte inferior das paredes devido à umidade do solo e a falta de impermeabilização adequada, mas também aparecem com muita frequência em lajes de cobertura e pisos.
Suas colorações são diferenciadas e podem variar do branco ao preto. O surgimento de micro-organismos, como o lodo e o mofo, contribui muito para essa coloração, geralmente provocando manchas nas cores verdes e pretas.
Para solucionar o problema, é importante tratar a fundo a causa da mancha para depois partir para a correção estética. Feito isso, deve retirar o revestimento ou a pintura e higienizar o local.
É importante que toda a sujeira seja removida para evitar o surgimento de micro-organismos. Em seguida, deve ser feita a impermeabilização, seja com tinta ou algum outro produto recomendado para a situação.
CARBONATAÇÃO DO CONCRETO
A carbonatação do concreto é um processo físico-químico que ocorre entre os componentes do cimento e o gás carbônico (CO2), tendo como resultado a desestabilização da camada protetora da armadura, que fica sujeita a uma corrosão.
- Etapas da carbonatação:
- A água penetra no concreto através das fissuras, formando uma película de água;
- O cálcio presente é dissolvido pela água, formando o Ca(OH)2;
- O CO2 também penetra no concreto através das fissuras e reage com a água, formando H2CO3;
- Sendo assim, Ca(OH)2 reage com H2CO3, formando CaCo3;
- O consumo do cálcio faz com que o pH do concreto diminua e, como consequência, deixando a armadura suscetível à corrosão.
É importante ressaltar que, para que ocorra a corrosão, são necessários os seguintes fatores combinados: umidade, dióxido de carbono e oxigênio.
Em decorrência disso, pode haver um colapso estrutural, uma vez que a reação entre esses componentes pode causar a perda de resistência mecânica, elasticidade, ductilidade, entre outras características essenciais.
Essa manifestação patológica se torna evidente a partir do surgimento de fissuras nos elementos e também quando há o desplacamento da camada de concreto que protege as barras de aço.
Em casos em que ocorre esse desplacamento do concreto e as barras que compõe a estrutura não estão muito degradadas, deve-se limpar a área de modo a deixar pelo menos 2 cm de distância do concreto, limpar a ferrugem e aplicar um produto inibidor de corrosão.
Caso as barras existam em pouca quantidade ou inexistente, é importante isolar a área e escorar, pois apresenta perigo e substituir os componentes comprometidos.
DETERIORAÇÃO DO CONCRETO
Segundo a NBR 15575, a estrutura deve atender a requisitos como: não ruir ou perder estabilidades, dar segurança aos usuários mesmo quando estiver sob ação de impactos e vibrações, entre outros.
Entretanto, além da carbonatação, outros fatores podem prejudicar o concreto, como quando há a perda do caráter aglomerante do cimento, gerando uma desintegração do concreto. Essa desintegração vai em contradição com o que a norma exige, visto que impacta negativamente o desempenho da estrutura.
As causas da deterioração do concreto podem ser classificadas em três tipos:
- Causas mecânicas
- Causas químicas
- Causas físicas
As causas mecânicas são aquelas que comprometem a resistência das estruturas e, através da estrutura degradada, facilita a entrada de agentes agressivos.
Essas causas referem-se a impactos, recalque diferencial das fundações e acidentes, como terremotos.
As causas físicas estão atribuídas a desgastes, como abrasão e erosão, retração hidráulica do concreto, retração e dilatação térmica. Esse tipo de causa provoca desgastes superficiais, gretamento de pisos e fissuração.
Já as causas químicas, ou reações químicas, elas se manifestam através da degradação externa do concreto e das reações internas, como a carbonatação e a formação de compostos expansivos.
O grau de porosidade, permeabilidade e a resistência do concreto também contribui para o resultado final dessas reações.
A solução para o problema vai desde alternativas mais simples, como um reparo ou troca de revestimento, até soluções mais complexas envolvendo fundações.
Portanto, é importante o acompanhamento de profissional qualificado para identificação do grau de gravidade do problema e indicação de medidas corretivas
EFLORESCÊNCIA
Sabe aquelas manchas esbranquiçadas, com aspecto meio escorrido nas superfícies e que são muito comuns? Tenho certeza que você já viu e provavelmente não sabia que era uma eflorescência.
A eflorescência nada mais é do que uma formação de depósitos de sais cristalizados que foram transportados pela água do interior da alvenaria ou concreto.
Esses sais são provenientes de alguns materiais, como a cal, que possui alto teor de hidróxido de cálcio ou até mesmo da água utilizada na construção.
Alguns fatores como o excesso de água, materiais com alto teor de sais solúveis, ambientes quentes e úmidos, impurezas na areia, fissuras e falhas nas juntas de dilatação, contribuem para o surgimento da eflorescência
Etapas de formação da eflorescência
O processo de formação da eflorescência se dá da seguinte maneira:
- A cal livre entra em contato com a água, sendo assim ocorre a dissolução da cal;
- A solução formada migra, através de processo osmótico, para a superfície. Essa migração se dá por conta de diferentes níveis de concentração do sal;
- Por fim, a água evapora e resulta na formação dos depósitos salinos esbranquiçados, também conhecida como eflorescência.
Agora você deve estar se perguntando: como eu vou acabar com esse problema? Calma, nós estamos aqui para te orientar.
Assim como muitas manifestações patológicas, a solução para a eflorescência é impermeabilizar.
Ou seja, quando interrompemos a passagem de água ou a umidade, automaticamente estamos evitando que o ciclo de formação da eflorescência se inicie.
Além da impermeabilização, já existem muitos produtos no mercado que atuam no combate a essas patologias.
Esses produtos combatem temporariamente, pois se a região mantiver o contato com a umidade, as chances de o problema aparecer novamente são altas.
Considerações finais
Diante de tudo o que foi dito, percebemos que é importante a contratação de profissionais qualificados, o uso de bons materiais e a execução de maneira correta dos serviços.
Uma boa parte desses problemas surgem em decorrência de falhas na execução, por isso é essencial ter todo esse cuidado, pois evita prejuízos e torna a edificação muito mais segura.
Também não podemos esquecer das manutenções preventivas, pois elas garantem uma vida útil maior e um melhor desempenho estrutural e funcional.
Sem essa revisão e sem as normas de desempenho, tanto as funcionalidades e a estrutura do edifício entram em colapso, como a saúde e segurança dos usuários passam a ser comprometidas.
Assista o resumo desse conteúdo no vídeo sobre manifestações patológicas em concreto armado logo abaixo:
Quer saber mais sobre manifestações patológicas na construção civil? Abaixo listamos outros artigos sobre o tema aqui no nosso Blog
- As Patologias Mais Comuns nas Estradas
- Os Tipos e as Patologias Vistas nas Argamassas
- Cortando Pela Raiz 3 Manifestações Patologias Comuns em Edifícios
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 – Edificações habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
FARIAS DE BRITO, Thaís. Análise de manifestações patológicas na construção civil pelo método gut: estudo de caso em uma instituição pública de ensino superior. Pernambuco, 2017.
SANTOS DE LIMA, Bruno. Principais manifestações patológicas em edificações residenciais multifamiliares. Rio Grande do Sul, 2015.
Figura 1 – Disponível em: < https://www.mapadaobra.com.br/negocios/fissuras-em-paredes-e-pisos-de-concreto/ >;
Figura 2 – Disponível em: < https://guideengenharia.com.br/trincas-de-flexao-de-vigas/ >;
Figura 3 – Disponível em: < http://www.forumdaconstrucao.com.br/ >;
Figura 4 – Disponível em: < https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Acao-da-umidade-POZZOBON-2007-apud-SCHEIDEGGER-e-CALENZANI-2019_fig1_351682353 >;
Figura 5 – Disponível em: < http://doi.editoracubo.com.br/10.4322/2SPPC.2017.022 >;
Figura 6 – Disponível em: < https://4tconstrutora.com.br/wp-content/uploads/2019/08/Estruturas-de-Concreto-expostas-ao-tempo.jpeg >;
Figura 7 – Disponível em: < https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=descobertas-causas-deterioracao-concreto-asfalto&id=010170210701#.Yg2NqOjMLIU >;
Figura 8 – Disponível em: < https://pointer.com.br/blog/eflorescencia/ >;