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Igor Pinheiro

C.E.O da Inova Civil
Ativo 17

Argamassa Industrializada e Produzida em Obra: Qual a Diferença?

 “Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível”.

                                                                             Charles Chaplin

Figura 1 – Argamassa enscada com argamassadeira ao lado dela.

      A construção civil tem alguns termos na moda, principalmente nos últimos anos, como a construção enxuta, logística em canteiro de obras, produtividade e tantos outros. Mas, afinal, quais as contribuições desses assuntos no seu dia-a-dia? Vale a pena se dedicar e estudar cada um deles, entendendo as suas particularidades? Entrando na crista dessa onda, temos a argamassa ensacada, conjunto de materiais ensacados que ao terem a adição de água poderão ter as propriedades de reboco, argamassa de assentamento de cerâmica, contrapiso e outros, a depender da finalidade do produto.

      Sempre bom realizar um comparativo do produzido convencionalmente com a inovação que muitas vezes parece ser a solução de todos os seus problemas, será mesmo? Esses produtos poderiam garantir um serviço econômico, eficaz e rápido?

1. DEFINIÇÃO DE ARGAMASSA

      Segundo o Manual de Revestimentos da ABCP (2002), a argamassa é uma mistura homogênea de aglomerante, agregado miúdo (comumente, areia) e água, com adição ou não de aditivos, a fim de proporcionar alguma propriedade não prevista anteriormente.

      Geralmente, utiliza-se para os serviços de chapisco, emboço, reboco, assentamento de alvenaria, contrapiso e outros serviços corriqueiros na construção civil.

2. ARGAMASSA CONVENCIONAL

      A argamassa convencional é o resultado da mistura dos materiais citados por meio de recipientes com volume conhecido, obedecendo à dosagem definida previamente, ou seja, utilizam-se padiolas com dimensões de acordo com a tabela de traço, Figura 2 e 3.

Figura 2 – Exemplo de tabela de traços (cuidado, não é uma receita de bolo, deve-se atentar às propriedades de cada material).
Figura 3 – Padiola para traço convencional

      Atenção para a qualidade do cimento a ser adquirido. No mercado, há diversos tipos, como o CP I (O mais básico e praticamente em desuso) a CP V (Cimento Portland de Alta Resistência Inicial), Figura 4. Por isso, analise o tempo necessário de reação de cada cimento, ou seja, alguns traços poderão atingir a resistência desejada antes que os outros.

Figura 4 – Tabela com os tipos de cimento.

      Acerca da brita e areia, consulte os fornecedores mais próximos da região, verificando se os materiais têm as especificações de acordo com a tabela de dosagem.

      Imagine uma areia proveniente de uma região de predominância de dunas, será que ela atenderá ao imaginado? E a umidade dessa areia? E um volume de brita de grandes dimensões terá as mesmas propriedades de trabalhabilidade e resistência das britas de menores dimensões? A Figura 5 explana a diferença visual desses materiais.

Figura 5 – Exemplo de Areia e Brita.

      Como pode ser percebido, há muitas particularidades na fabricação da argamassa convencional, necessitando de um controle constante desde a aquisição do material até a mistura na betoneira.

3. ARGAMASSA INDUSTRIALIZADA

      Diferentemente da anterior, há menos produtos a serem observados, já que a mistura de aglomerante e aglomerado é disponibilizada na proporção adequada para o serviço, por exemplo, argamassa ensacada para reboco ou para contrapiso ou assentamento de tijolos cerâmicos e outros. O operador do equipamento deverá atentar apenas no tempo de mistura e na quantidade de água a ser colocada no produto, Figura 6.

Figura 6 – Argamassadeira ao lado do local de aplicação.

      No caso da aferição da quantidade de água, a falta de um recipiente com graduações, infelizmente, é substituída muitas vezes pelo capacete do funcionário. Obviamente, procedimento inadequado, afinal a qualidade do seu material não poderá depender do “achômetro” do operador de betoneira, Figura 7.

Figura 7 – Recipiente graduado.

4. FATORES QUE INFLUENCIAM NO SUCESSO EM QUALQUER MÉTODO CONSTRUTIVO

  • Treinamento das equipes;
  • Equipamentos;
  • Logística (Transporte e armazenagem dos materiais);
  • Execução;
  • Controle.

 5. TREINAMENTO DAS EQUIPES

      Indiscutivelmente, a mão de obra é o recurso mais importante que as empresas dispõem para a construção, basta analisar a Curva ABC do seu empreendimento (Não seria uma surpresa perceber que a quantidade hora.homem do servente é um dos itens mais relevantes). No entanto, o treinamento dos funcionários, em milhares de empresas, é um item desprezado.

      Para a produção de argamassa, seja pelo método convencional ou pelo método industrializado, a qualidade da mão de obra, principalmente do operador da betoneira ou argamassadeira, é primordial para a garantia da qualidade quista por todos.

      Os impactos dos treinamentos são inúmeros, por exemplo:

  1. Aumento da qualificação do profissional;
  2. Oportunidade de desenvolvimento, possibilitando o crescimento dentro da empresa;
  3. Valorização e motivação dos profissionais;
  4. Aumento da probabilidade de acerto nos serviços propostos.

      Portanto, não adiantará optar por um método inovador se o operador de argamassadeira não conhece a dosagem correta do material. Sem dúvidas, para o alcance do sucesso, o treinamento deverá ser algo prioritário e constante no dia a dia de toda empresa.

6. LOGÍSTICA

      Um dos pontos cruciais nesse embate!!!

      Todos sabem que a logística aplicada à engenharia civil proporciona melhorias na gestão de materiais, de fluxos, informações, segurança do trabalho e muito outros benefícios.

      No quesito argamassa convencional, há muitas materiais a serem geridos e armazenados, como cimento, areia e cal, tendo a necessidade de baias para armazenagem (areia) ou depósitos (cimento). Por outro lado, a argamassa industrializada permite a facilidade no manejo do material, pois se deve apenas transportar esse material ao local de aplicação.

      Enquanto, os materiais da argamassa convencional tende a envolver diversos fornecedores e cuidados dos operários da empresa, os da argamassa industrializada facilitam todo esse processo e diminuí o índice de erros, já que basta providenciar o transporte até o andar e, em seguida, deixá-lo separado para aplicação no dia posterior. Portanto, não haveria necessidade de armazenamento de areia ou cimento no térreo nem a necessidade de utilização de betoneira para fornecimento de material para a torre, já que haveria uma argamassadeira nos pavimentos.

      Nesse âmbito, há o estudo para a redução de distâncias para transporte de materiais, redução de perdas por quebras ou erros de armazenamento, redução dos acidentes, aumento da produtividade e outros. Princípio essencial para o lean construction, pois proporciona que o material chegue à obra na hora certa e no lugar certo, atentando para os prazos dos fornecedores, os custos dos insumos e para a comunicação sem percalços. O layout de canteiro é a “alma” desse processo, por isso deve-se racionalizar o espaço ao máximo. A Figura 8 demonstra um layout de canteiro.

Figura 8 – Layout de Canteiro de Obras Tradicional.

      Caso, você queira se aprofundar em LOGÍSTICA, basta acessar ao link de outro post do Inovacivil (Logística na Construção Civil):

7. EQUIPAMENTOS

      Os equipamentos estão intrínsecos à logística na construção civil, são “irmãos de sangue”, ou seja, um depende do outro. Pode-se salientar que:

a) Produção e transporte argamassa convencional

  • Betoneira – Equipamento que, na maioria das vezes, encontra-se próximo às baias de armazenamento e ao elevador de transporte;
Figura 9 – Betoneira.
  • Transporte por carrinhos, jerica e outros;
  • Elevador de transporte ou grua;
Figura 10 – Elevador de transporte.
  • Masseira de plástico;
Figura 11 – Masseira de Plástico.
  • Aplicação – Colher de pedreiro, régua de alumínio e desempenadeira.
Figura 12 – Serviços de pedreiro.

b) Produção e transporte da argamassa industrializada

  • Transporte por carrinhos, jerica e outros;
  • Elevador de transporte ou grua;
  • Armazenagem dos sacos nos andares em que encontra-se a argamassadeira;
Figura 13 – Argamasasa estocada no pavimento da argamassadeira.
  • Argamassadeira;
  • Masseira de plástico;
  • Aplicação – Colher de pedreiro, régua de alumínio e desempenadeira.

      Ao comparar os equipamentos a serem utilizados e a rapidez do transporte, a argamassa industrializada é mais vantajosa, visto que proporciona facilidade de aplicação do material. O produto não precisará “aguardar” toda a separação dos materiais, dosagem, transporte em carrinhos, disponibilidade do elevador ou grua, despejo no local de aplicação e encaminhamento para a masseira de plástico do operário.

      Basta encaminhar toda a quantidade de sacos do material pré-misturado que será utilizado durante determinado período de tempo para que o operador da argamassadeira misture-o com água e o disponibilize para o pedreiro.

 8. EXECUÇÃO

      A argamassa industrializada, por ter garantia de qualidade e, ainda, facilidade de mistura, proporciona um material homogêneo e com melhores propriedades que o produzido pela a argamassa convencional.

      Além disso, possibilita a utilização do reboco projetado. Em suma, o operador deposita a argamassa ensacada em equipamento apropriado que proporciona um jato de alta pressão, Figura 14.

Figura 14 – Reboco Projetado.

     Caso queira entender mais sobre reboco projetado, basta acessar o seguinte link:

 9. CONTROLE

      O controle de qualidade é bem semelhante em ambos os processos, deve-se atentar à:

  • Dosagem do traço: Obedecer à tabela de dosagem disponibilizada em obras para a argamassa convencional e às recomendações do fabricante presentes na embalagem do produto para a industrializada;
  • Tempo de mistura: Deve-se analisar o tempo necessário para as reações químicas, há um prazo de validade para aplicar o material. Após esse prazo, o produto da mistura deverá ser descartado.
  • Homogeneidade: Toda mistura deverá ser homogênea, a fim de não provocar possíveis manifestações patológicas, como as fissuras de retração por excesso de aglomerante e outras diversas.

10. CUSTO

     Essencial em todo comparativo, o custo norteia a decisão de todas as pessoas dentro de uma obra, não esquecendo a qualidade. O Manual de Revestimento da ABCP (2002) define a argamassa como a soma de vários fatores, incluindo os custos indiretos e custos ocultos. Afinal, não seria justo comparar apenas os custos de aquisição do material, sem atentar para o índice de perdas de mão de obra em transportes desnecessários, desperdícios, pouca produtividade e tantos outros.

     Há casos em que a argamassa convencional poderá ter um preço mais atrativo, como em locais onde há abundância de insumos básicos, pequenas distâncias de transporte e diversos locais para armazenamento dos materiais.

     Por outro lado, a argamassa industrializada ficará com um preço inferior quando se analisa serviços em locais de difícil acesso, restrição de horário de transporte de materiais (salas comerciais), pequenos reparos ou em prédios comerciais que detém pequenos canteiros.

     Como cada caso tem suas particularidades, o engenheiro deverá atentar para todas as características da sua respectiva obra e comparar os custos para escolher o que lhe convém no momento.

MORAL DA HISTÓRIA

      A construção civil avançou nos últimos anos, principalmente no quesito de materiais. O surgimento da argamassa industrializada está auxiliando na industrialização e na queima de etapas de alguns serviços tido como “intocáveis” por alguns gestores, como a utilização de betoneira com os gigantescos centros de estoques de sacos de cimento e baias de areia. Essa inovação proporcionou a racionalização dos serviços, tal como dito exaustivamente em posts passados o material deverá chegar à obra no horário certo, ou seja, produto estocado significa “dinheiro parado”.

      Todavia, essa inovação não irá, milagrosamente, solucionar todas as suas dores e preocupações. Atente-se a cada caso, a sua obra necessariamente precisará de argamassa industrializada? Estude a viabilidade do processo para que os números embasem a decisão da escolha entre produto convencional x produto industrializado.

ARTIGO SOBRE PATOLOGIAS EM ARGAMASSAS: https://inovacivil.com.br/os-tipos-de-argamassas-e-suas-principais-patologias/

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