A industrialização da construção civil está avançando ao longo dos anos, como nas mudanças dos métodos construtivos, no surgimento de novas técnicas de fabricação de peças estruturais, nos projetos inovadores e outros exemplos. Contudo, esse setor não está fornecendo a devida importância para o local do setor produtivo: o canteiro de obras.
Em suma, todos os engenheiros tendem a se preocupar com os aspectos técnicos, seja por problemas devidos à compatibilização não realizada previamente por software como o BIM (Building Information Modeling) ou aos prazos e custos incompatíveis com a realidade ou aos problemas com os supervisores.
Logo, por passar tanto tempo preenchendo relatórios dentro dos escritórios, os gestores não conseguem observar os problemas do “chão de fábrica”, não se preocupando com os desperdícios, os prazos e os retrabalhos, ou seja, com a GERÊNCIA DO FLUXO DE MATERIAIS E SERVIÇOS!!!
Não se sabe o quanto é gasto por transporte desnecessário de materiais:
Vamos pensar!
Quando o caminhão carregado com os blocos cerâmicos chega à obra para fornecer o material, como é realizada essa retirada?
Você desloca um contingente de serventes para descarregar o caminhão? Ou o fornecedor disponibiliza ajudantes informais para ajudá-lo? A figura 2 demonstra a prática comum no dia a dia.
Não seria melhor solicitar ao fornecedor que enviasse os tijolos em palets, figura 3? Não haveria menor índice de quebras dos materiais no transporte? Os funcionários não estariam fazendo atividades realmente produtivas, como auxiliando na betoneira? E a segurança dos seus funcionários não seria afetada para melhor? Em conjunto com essa solicitação, bastava disponibilizar de carrinhos porta-palete, mini-carregadeiras e outros meios de transporte de palets, figuras 4 e 5.
Nesse contexto, a logística aplicada à engenharia civil proporcionará uma melhor na gestão de materiais, de fluxos, informações, segurança do trabalho e muito outros benefícios. Claro que há outros milhares de exemplos logísticos em obras, alguns serão exemplificados a seguir.
O know-how logístico, já aplicado à exaustão nas indústrias automotivas, permitirá a preparação da equipe de canteiro de obras, otimizando os processos e garantindo a redução de prazos, custos, perdas e desperdícios.
1. LEAN CONSTRUCTION
Como citado no post dos 7 Princípios do Lean Construction, o lean construction, também conhecido por construção enxuta, método que condena todos os tipos de desperdícios, além de almejar o acréscimo substancial do valor agregado do produto sempre visando os desejos dos seus clientes, surgiu como parceiro na coordenação da logística no canteiro de obras.
Um dos exemplos desse contexto bem prático ao assunto desse post é a demarcação dos caminhos a serem percorridos, ou seja, qual o melhor caminho a ser utilizado pelos funcionários da empresa sem que haja riscos de segurança ou prejuízos em termos de grandes distâncias, figura 6.
A) ANDON
Em obras de diversas empresas no âmbito de construção civil, usa-se um equipamento de automação pertencente ao conceito de LEAN CONSTRUCTION, o qual é denominado por ANDON que em japonês significa lâmpada.
É um sistema que consiste em avisar quando um operário irá parar a sua linha de trabalho, devido a algum problema ou porque não conseguiu executar as suas tarefas dentro do previsto no planejamento. Ou seja, é um gerenciamento visual da linha de produção por meio de cores.
O ANDON funciona através do controle, por parte dos operários, de um interruptor de três seções que são instalados em todos os pavimentos da torre, os quais acendem lâmpadas em um quadro localizado na sala da administração da obra respectivamente figuras 7 e 8.
Cada seção do interruptor apresenta uma cor diferente a qual representa o andamento do trabalho que está sendo realizado por uma determinada equipe:
Verde = Serviço decorrendo dentro da normalidade;
Amarelo = Existência de algum problema que poderá provocar a parada;
Vermelho = Equipe parada por falta de condições de trabalho.
Essa comunicação visual possibilita à administração fácil comunicação com as equipes de trabalho e identificação das falhas ocorridas, proporcionando agilidade na busca por soluções.
No caso do acionamento da luz amarela o engenheiro ou mestre de obras tem até 30 minutos para solucionar o problema, caso contrário, a luz amarela é substituída pela vermelha. Neste caso, é fundamental que os devidos responsáveis atendam imediatamente ao chamado do operário, na tentativa de minimizar o tempo de quebra da atividade.
Todas as paradas deverão ser registradas com o intuito de evitar reincidências.
Logo se pode perceber que o sistema Lean Construction auxilia no dia a dia logístico das atividades, proporcionando diminuição dos erros e desperdícios.
2. PLANEJAMENTO LOGÍSTICO
Na contramão dos países desenvolvidos, os integrantes da construção civil brasileira consomem mais tempo executando do que planejando. Você já viu o arranha céu de 240 metros e 57 andares na cidade Changsha na China? Sabe quanto tempo durou a construção? Cerca de 19 dias, isso mesmo, dezenove dias! Imagine então se houve ou não a necessidade de um plano logístico praticamente perfeito.
Lembre-se que, geralmente, as manifestações patológicas são decorrentes de falhas de projeto e planejamento, ou seja, quanto maior for o envolvimento dos engenheiros com o pré-obra menor o índice de patologias.
É importante salientar também que as obras públicas (geralmente as obras brasileiras vultosas, como estádios, pontes, viadutos e outras obras de infraestrutura) poderão ser licitadas com o Projeto Básico. Para quem não sabe, o Projeto Básico apresenta apenas os elementos básicos do empreendimento, em resumo é uma fase caracterizada por estudos preliminares, anteprojeto, estudos de viabilidade técnica e econômica, além da avaliação do impacto ambiental.
Como uma obra que se inicia com apenas algumas plantas arquitetônicas e com escassos detalhes irá provir um produto de acordo com as condições necessárias para a boa qualidade de vida da população?? Se não possuem nem projetos completos, imagine o tão requerido plano logístico.
A sequência correta (explicada de forma básica) para empreendimentos a serem seguidos principalmente pelas empresas privadas seria:
a) Planejamento Estratégico: Tipologia do empreendimento (residencial, comercial ou outro) com os objetivos a serem alcançados;
b) Planejamento do Empreendimento: Verificação dos terrenos disponíveis e a análise de viabilidade socio-econômica;
c) Concepção do Produto: Definição do estilo arquitetônico a ser utilizado com algumas configurações básicas de como será o produto final;
d) Projeto Básico: Estudo geral dos projetos, permitindo a análise qualitativa e quantitativa de alguns pontos;
e) Projeto Legal: Formulação dos projetos restantes e a, posterior, apresentação das documentações e dos projetos necessários juntamente ao Orgão Público.
f) Projeto Executivo: Representação final com todos os projetos detalhados e compatibilizados de preferência no BIM para que haja boa execução das obras. Além do plano logístico detalhado prevendo diversas variáveis.
Segundo as boas práticas da engenharia, apenas posteriormente a esse procedimento, a obra poderá ser iniciada.
3. ESTRATÉGIAS LOGÍSTICAS
• Processo Logístico na Indústria da Construção Civil: É a busca incessante para gerir todo o fluxo de materiais e de serviços da obra, almejando a redução de custos e retrabalhos, a elevação da qualidade do empreendimento e o aumento da produtividade;
• Tecnologias da Informação: Atualmente, há à disposição os smartphones e tablets que poderão ser de grande valia no dia a dia. Por exemplo, os sistemas de recebimentos de serviços poderão ser integrados e automatizados por aplicativos, bastando apenas alimentá-lo com as informações que os relatórios do setor de qualidade já serão disponibilizados de maneira rápida e eficaz. Além disso, o almoxarife poderá receber e distribuir os estoques de maneira simples bastando ter um QR Code.
A visualização dos projetos também poderá ser facilitada, figura 10.
• Parcerias com os Fornecedores: Imagine você já disponibilizar, com bastante antecedência ao seu fornecedor, todo o cronograma de materiais para atender aos serviços na obra, isso iria facilitar o planejamento da produção de materiais e você até poderia almejar preços abaixo do mercado. Por exemplo, a sua empresa tem 5 obras e precisará em determinado mês de 2000 metros de determinada tubulação, se houver o acordo prévio com o fornecedor, é bem provável que haja um desconto no fornecimento desses materiais.
• Técnicas Construtivas Inovadoras: A simplificação da obra por meio de técnicas inovadoras também é de suma importância para as estratégias logísticas, como a fachada ventilada, lajes protendidas (diminui a necessidade de aço na obra) e tantos outros. Essas inovações tendem a facilitar a execução, minimizar a ocorrência de erros e facilitar a organização do canteiro.
• Terceirização de Serviços: Deve-se sempre almejar a redução de custos, seja com materiais por meio das parcerias com os fornecedores ou com a contratação de prestadores de serviço especializado. Torna-se mais simples contratar uma empresa especializada em impermeabilização do que treinar um funcionário pouco especializado locado na sua empresa.
• Organização do Canteiro de Obras: Quanto mais racional e organizado for o Layout de Canteiro de Obras melhor para todos. Os espaços físicos deverão ser dimensionados nos locais corretos e nos tamanhos adequados para atenderem os serviços. Aprenda mais no post “DICAS VALIOSAS PARA A ORGANIZAÇÃO DO SEU CANTEIRO DE OBRAS”.
4. CONCLUSÃO
Portanto, a fim de minimizar os altos índices de desperdício e de improvisação dentro do canteiro de obras brasileiro, deve-se focar na modulação dos projetos, na tecnologia da informação, na eficácia da administração de materiais, no treinamento da mão de obra e em um plano logístico condizente com o prazo, o custo e a qualidade requeridos nos canteiros de obras.
Esses fatos não são observados no panorama atual da indústria da construção civil, por isso esses parâmetros deverão ser reajustados casos as empresas almejem permanecer competitivas no mercado.